domingo, 24 de janeiro de 2010

Não se implora o amor

O marido estava triste, desmotivado. Sua mulher havia deixado de amá-lo.
Levantou da cama e vestiu-se naquela manhã de domingo.
Sem nada para fazer, saiu de casa e andou sem rumo.
Até aquele dia, nunca tinha reparado como era penoso viver sem amor.
, Depois de andar durante horas, sentou-se à sombra de uma árvore frondosa no banco de uma praça, de cabeça baixa.
Ao seu lado, sentou-se um homem que, pelo seu aspecto, pareceu-lhe um mendigo.

Quase se levantou para seguir o seu caminho, mas o sorriso do homem o reteve.
Aos poucos, se estabeleceu um diálogo e uma animada conversa que se estendeu por horas.

Finalmente, o marido se levantou do banco, deixando dinheiro na mão do mendigo.

Sua postura já estava diferente. Agora, com passo enérgico, voltou para casa, tomou banho, fez a barba e se vestiu com todo cuidado.

Saiu sem dar explicações e sua mulher, que já não o amava, se mostrou levemente curiosa com a sua nova atitude. Voltou à noite, bem tarde.

No dia seguinte, cumprimentou gentilmente sua mulher e foi trabalhar.

Na volta, vestiu um short, calçou tênis e fez uma longa caminhada noturna.

Dormiu com excelente disposição. O dia seguinte foi igual, talvez melhor.
Sua mulher, que não o amava, e seus filhos se surpreenderam.
Parecia ter perdido a tristeza.
Ganhara uma força e uma elegância que a família nunca antes tinha notado.

Continuou a ser gentil com a mulher, mas nunca mais lhe pediu desculpas ou explicações, nem exigiu que fizesse amor com ela.
Passaram-se semanas.

A atitude do marido continuava firme e a disposição otimista instalou-se de vez.
A mulher sentia-se cada vez mais intrigada com a mudança miraculosa do marido e teve mais simpatia por suas novas atitudes, sábias e moderadas.
Embora ela persistisse em não amá-lo, ele melhorava seu desempenho como pessoa e como pai.

Agora, os amigos o procuravam.
Era evidente que tinha se transformado num homem sábio.
Quanto a mim, sou um sujeito profundamente curioso, talvez por ser escritor e fui à mesma praça onde estivera o marido a fim de procurar o mendigo.

Pude reconhecê-lo imediatamente. Sem vacilar, sentei-me a seu lado.
Apresentei-me e perguntei o que ele tinha dito para o marido.
Sorrindo, o mendigo me respondeu: "Ah, lembro... Não dei grande conselho.

Disse-lhe apenas que, com minha experiência de mendigo, aprendi que nunca se deve pedir dinheiro e, pelas mesmas razões, jamais se deve suplicar amor.

Essas são duas coisas que sempre nos negam quando as pedimos".
E sorrindo, acrescentou: "O dinheiro, a gente ganha; o amor se conquista".

sábado, 23 de janeiro de 2010

O que é o Amor



Uma Hidra Com Mil Cabeças

Como a hidra do mito grego, o amor assume muitas formas – bastantes mais do que as nove cabeças atribuídas à hidra do lago Lerna. Não há apenas o amor parental especialmente visado na Carta aos Coríntios (O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso…).

Há também o amor passional, cantado por Shakespeare:

"O amor é uma fumarada de suspiros; liberto, é uma chama que brilha nos olhos dos enamorados; prisioneiro, é um mar que alimenta as suas lágrimas.

E há o amor à sociedade, aos animais, e à arte. E o amor a Deus e a ideias (algumas loucas). E o amor ao poder, ou ao dinheiro, ou à crueldade. É. Algumas formas de amor são declaradamente perversões (o amor ao dinheiro, por exemplo) ou monstruosidades (o amor sádico, de alguns carrascos e psicopatas).

O amor pode de facto envolver características de uma hidra monstruosa, no sentido mais literal do termo, o que em certa perspectiva justificaria uma iniciativa como a de Hércules, a uma Amione distante.

Só que essa tentativa nunca teria o êxito conseguido por Hércules. No caso do amor, o Monstro e a Bela confundem-se (como na história da Bela e o Monstro). A fonte de onde brota os amores monstruosos e pervertidos é a mesma que alimenta os amores grandiosos. O amor pode inclusivamente ser fonte de ódio: ao se amar uma certa ideia de Deus, ou de Pátria, ou uma certa mulher, ou uma certa coisa, pode odiar-se tudo aquilo que resiste e se opõe a esse amor… É. O amor pode ser fonte de ódio. Contraditoriamente. Alguns dos nossos maiores amores envolvem também ódios profundos".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa

domingo, 17 de janeiro de 2010